domingo, 29 de julho de 2007

Aqui e agora.



Gosto do pensamento essencial do zen-budismo que é mais ou menos assim: O passado já passou. Não importa mais.
Para que ficar pensando nele, para que se atormentar com o que já aconteceu?
O futuro ainda não existe. Para que se preocupar com ele, se não temos idéia de como será o amanhã? O que há de concreto é o presente.
O aqui e o agora.
Viver concentrado no presente, sem voltar inutilmente à mente para o passado nem encaminha-la também inutilmente para o futuro, é a parte da resposta para quem tentam livrar-se das aflições, ansiedades, amarguras que fazem parte da vida de todos nós.
Acho que esse jeito zen de ser teria muita utilidade na vida romântica.
Quanto tempo os casais não perdem em brigas e sofrimento por causa do passado e do futuro? Esse tempo desperdiçado poderia e deveria ser desfrutado alegremente se vivêssemos o presente, se nós focássemos em aproveitar.
Hoje você me ama e eu amo você, estamos muito felizes por ser assim.
Uma atitude baseada nesses pontos elementares traz a felicidade.
Mas o que acontece quase sempre é exatamente o oposto.
Recriminações e amarguras mútuas por coisas passadas. Preocupações muitas vezes neuróticas com um futuro que está apenas em nossa cabeça.
Então jogamos cruelmente no lixo que poderiam ser momentos de prazer.
E optamos, por força de uma mente que se agita como um cavalo selvagem, pelo sofrimento. Isso não é deliberado.
É involuntário.
Mas a dor é a mesma.
O que posso fazer para mudar? Não tenho a resposta precisa, somente alguma pista.
Talvez se diminuíssemos consideravelmente a nossa dor se procurássemos entender que tudo é impermanente.
Há tempo para nascer e outro para morrer. Há tempo para florescer e outro para decai.
Tudo que se ergue destrói.
Tudo passa.
A juventude, o vigor, o cargo, a carreira e o amor.
Isso é a impermanência.
Na tentativa desesperada de deter o que não pode ser detido, sofremos intensamente e em vão. É mais ou menos como segurar a água com as mãos.
Ela escorregará, quer você queira ou não.
Se compreendermos a impermanência e, ainda mais que isso, a aceitamos, estamos preparados para viver o aqui e agora no amor.
E em tudo mais.
O Amanhã?
Quem sabe?
E o que interessa?
Sobretudo: quem o controla?
Se não bastasse tudo isso, ele está tão distante, não é?
Amanhã você vai estar junto da pessoa que tanto ama hoje?
Você pode se atormentar com essa dúvida e estragar grandes momentos.
Ou pode apenas gozar o presente.
Experimentar a eternidade de um instante que se desvanecerá com a rapidez com que uma onda se desfaz ao chegar à beira do mar, mas cujo encanto perdurará num tocante poético desafio à impermanência.
O aqui e agora.
E então olho no espelho.
Vejo quantas coisas perdi, na minha vida amorosa, por estar preso ao passado e cheio de insegura ansiedade em relação ao futuro.
Tantas passagens que poderiam decorar gloriosamente as paredes de minha memória foram manchadas por minha capacidade de abraçar apenas o presente.
Tanta felicidade ao alcance dos meus dedos e, no entanto a opção cega pela dor, pelo medo, pelo rancor.
Sinto uma grande vontade de pedir desculpas a quem feri por não conseguir viver o aqui e agora.
Eu achava que sabia um pouco sobre o amor, pela minha vivência e pelas experiências dos que me circundam, e era um ignorante pretensioso.
Ainda sou.
Mas você só pode enfrentar a ignorância se primeiro reconhecer primeiro que é ignorante.
Reconheço.
A minha caminhada é longa e árdua.
Exige disciplina, exige esforço da mente, exige concentração.
Mas toda jornada começa pelo primeiro passo.

Tadeu Silva. (Copyright2007 Todos os direitos reservados)


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